Tratamento de choque

O choque é o novo cacoete da arte. O artista, seja de qual área for, sem talento ou inspiração suficiente para criar uma obra de impacto, busca destaque e exposição no que choca. Bons tempos eram aqueles que o “chocar” tinha uma razão de ser, sempre pautada na busca pelo novo e na crítica bem embasada. Hoje em dia o acaso e o sem propósito deixaram de ser novos, afinal, protagonizaram grandes movimentos do início do século passado. A crítica, sempre bem-vinda, fez parte de todas as manifestações artísticas ao longo da história da humanidade e, algumas vezes, promoveu grandes conquistas e evoluções. Hoje, em muitos casos, ela é usada como justificativa para uma criatividade nula e descabida, e infelizmente tem o apoio e a exposição que seus autores pretendiam. Desse pensamento surgem artistas como Guillermo Vargas Habacuc que muitos já devem ter ouvido falar pela sua “polêmica” performace ano passado (se não, clique aqui ). Ele a justifica dizendo que a morte do cão gerou uma imensa comoção coletiva porque estaria exposta em um museu, enquanto se fosse na rua, onde todos os dias morrem cães, gatos e até pessoas, nenhum sentimento de revolta teria sido expressado. Esse discurso pode até convencer alguns no primeiro momento, mas vale a pena pensar até que ponto deve-se aceitar a agressão de outro ser, seja ele irracional ou não ( não necessáriamente na ordem: animais e humanos ), em prol da arte e da pseudo-crítica. Se a intenção do autor era realmente a reflexão sobre a hipocresia das pessoas, porque não expor a ele mesmo passando fome, sede e frio, diante da platéia e da mídia? Chocar também é mais cômodo…